Alternativa
para aumentar a permeabilidade de pavimentos submetidos a cargas reduzidas,
sistema demanda cuidados de especificação, instalação e manutenção
Por
Caroline Mazzonetto
O
concreto permeável ou poroso é a última etapa de um sistema de drenagem.
Tecnologia ainda incipiente no Brasil, o material vem sendo adotado por
construtores para atender ao que as legislações municipais pedem em relação à
infiltração e permeabilidade na pavimentação de terrenos. Isso porque o
concreto permeável permite que a água das chuvas passe através dele e seja
armazenada nas camadas inferiores, base e sub-base, até ser conduzida ao lençol
freático por meio do subleito ou então levada ao sistema de drenagem da cidade.
Sem perder espaço de pavimentação, tem-se uma área pronta para absorver
precipitações, evitando enchentes e realimentando o aquífero subterrâneo.
A
principal diferença entre o concreto convencional e o poroso é o índice de
vazios deste último. Enquanto o concreto convencional é compacto e tem propriedades
que o fazem enrijecer ao longo do tempo, tornando-o mais resistente, a
característica do permeável é outra. Ele é feito a partir de material granular
quase todo do mesmo tamanho, com a mesma granulometria. "O uso do mesmo
tamanho de agregado cria vazios, porque eles não conseguem ser
preenchidos", explica Afonso Virgiliis, engenheiro da secretaria de
infraestrutura urbana e obras de São Paulo que tem mestrado em pavimentos
permeáveis pela Universidade de São Paulo (USP). Um pouco de areia grossa, nada
de fina, também permite que haja um bom volume de vazios.
A
quantidade de pedra, areia, cimento e água vai variar de acordo com a
resistência que se busca ter no concreto. Quanto maior a resistência que se
procura, menor será a permeabilidade. Para se ter mais permeabilidade, é
preciso um maior volume de vazios e, portanto, haverá menos resistência. Por
isso, há limitações na aplicação do sistema de drenagem com concreto permeável.
Ele é mais indicado para locais de menor solicitação de carga, onde a
resistência é menos exigida, como ciclovias, quadras poliesportivas e
estacionamentos - a restrição de carga é para tráfego leve.
As
peças prémoldadas são aplicadas sobre base e sub-base com pedras de no máximo
3/8" de diâmetro e uma camada de 10 cm a 15 cm de britas
Por
outro lado, é preciso tomar cuidado com o local onde o projeto será instalado,
como adverte Mariana Marchioni, coordenadora do projeto Pavimento Permeável na
Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP). Deve-se verificar se não é
uma área com risco de contaminação, já que a água infiltra para o solo, e nem
uma região onde costuma ocorrer enchentes.Vantagens do concreto permeável
●
Proteção do sistema de drenagem;
●
Pode ser usado como via para pedestres, estacionamento, ciclovia, piso de
quadras poliesportivas;
●
Ajuda a diminuir enxurradas e enchentes;
●
Possibilita a reutilização da água da chuva;
●
Realimenta o aquífero subterrâneo;
●
Atua como filtro, impedindo que impurezas e metais pesados atinjam o lençol
freático;
●
Permite melhor aproveitamento de terrenos;
●
Pode ser usado como zona de transição em barragens, junto aos maciços rochosos.
Como
funciona
A função permeabilizante do concreto permeável não funciona se ele não estiver
associado à base e sub-base granular. A água da chuva desce pelo concreto
poroso e precisa ser armazenada na estrutura granular, que deve ser de pedras
ou britas com grande volume de vazios. Depois que a chuva para, a água que
ficou armazenada nos vazios pode seguir dois caminhos: ou vai para o subsolo,
quando o subleito é propício para promover esse caminho até o aquífero, ou pode
ir para um sistema de drenagem. Aí ela segue para os bueiros e bocas de lobo da
cidade ou fica em piscinas de armazenagem ou reservatórios, a partir de onde
pode ser reutilizada em espaços sanitários ou jardins.
As normas americanas dizem que, quando o solo é propício, em 72 horas a água
armazenada é absorvida e lançada no aquífero. Se o subsolo é compacto e
impermeável (argiloso, por exemplo), no entanto, a água que fica na base e na
sub-base não consegue ir rapidamente para o lençol freático e fica acumulada no
reservatório granular. Nesse caso, as camadas de pedra da estrutura podem encher
e transbordar pela superfície, voltando para cima do concreto poroso.
Alternativa para aumentar a permeabilidade de pavimentos submetidos a cargas
reduzidas, sistema demanda cuidados de especificação, instalação e manutenção
Por
Caroline Mazzonetto
Por
isso, a recomendação é fazer o cálculo para a espessura do projeto baseado em
duas premissas: a própria resistência do concreto e a quantidade de chuva, e o
cálculo hidrológico, com referência a uma chuva de exceção que aconteça em um
intervalo de 10, 25, 50 ou 100 anos. Em São Paulo a normatização para
microdrenagem tem como base períodos de retorno de dez anos. Nesse cenário, a
construção de um sistema de drenagem fica dentro da margem de segurança.
A
base e a sub-base são executadas em um dégradé de gradação, com as pedras de no
máximo 3/8" de diâmetro. Primeiro as pedras maiores, depois as pedras
menores, por último pedrisco. Faz-se uma camada de 10 cm a 15 cm de britas, por
onde passa o rolo compactador vibratório, e mais outra camada. Grandes profundidades
não são necessárias à instalação da estrutura. "O pavimento ganha na área,
armazena água como um piscinão. Rasinho, mas um piscinão", explica
Virgiliis, que experimentou o sistema de drenagem com blocos intertravados de
concreto poroso em um projeto de estacionamento construído na USP (veja boxe
"Quem já usou"). O concreto tem que ser aplicado com cuidado, não
podendo ser jogado nem alisado, e deve ficar rugoso. Também não pode ser
desempenado, para não fechar as possibilidades de a água entrar.
Concreto
poroso, moldado in loco ou em peças pré-moldadas, é indicado para locais de
carga reduzida e tráfego leve. Nas fotos, estacionamento na sede do
Environmental Protection Agency (EPA), em New Jersey, nos Estados Unidos
Índices
de referência
A
execução do sistema de drenagem abaixo do concreto permeável envolve uma
camada única com pedras maiores e menores em dégradé, ou brita graduada. Não
precisa ser uma estrutura muito profunda, já que a capacidade de guardar água
se ganha na área do reservatório, que é extensa. Veja os principais índices de
desempenho do sistema:
● Índice
de vazios: na ordem de 20%, no máximo 25% (o concreto convencional possui 4% de
vazios);
● Ângulo
máximo da rampa: 18%, conforme estudo conduzido pela Universidade São Judas. A
partir daí, há escorregamento de massa na hora da aplicação e pouca capacidade
de absorção porque a água escorre. Se o método utilizado for o concreto
permeável em blocos pré-moldados, o ângulo possível é de 20% a 25%;
● Permeabilidade:
mais de 70% da chuva consegue ser escoada;
● Resistência
do bloco intertravado de concreto poroso: de 25 MPa a 30 MPa;
● Custo:
R$ 155/m² (pavimento para calçada que tenha uma camada com pedras maiores e
menores)
Fonte:
Intercity
Pisos
drenantes e colmatação
Os
pavimentos permeáveis foram bastante estudados na década de 1970 nos Estados
Unidos como uma forma de evitar aquaplanagem, reduzir ruído, ofuscamento do
farol dos carros e efeito de spray - mas acabaram abandonados. Depois
ressurgiram junto aos problemas de hidráulica, na esteira da recarga dos
aquíferos e como solução complementar de drenagem, não para transportes.
No
final dos anos 1990 e início dos 2000, o concreto permeável reapareceu como uma
tecnologia para ajudar na drenagem das cidades, retendo a água na fonte,
impedindo-a de correr para córregos e reduzindo enchentes. Os países onde essa
solução está mais disseminada são EUA, França e Japão, entre outros. "Todo
esse negócio é muito recente, demora muito para que as coisas cheguem. É novo
até nos Estados Unidos", ressalva Arcindo Vaquero y Mayor, presidente da
Associação Brasileira das Empresas de Serviços de Concretagem (Abesc).
Independentemente
do revestimento, pavimentos permeáveis são aqueles que permitem a infiltração
de água. O concreto permeável ou poroso, especificamente, pode ser produzido de
duas formas: moldado in loco ou em peças pré-moldadas. Virgiliis aconselha
cuidado na hora da aplicação em ambos os métodos. Se for a massa jogada em cima
da base granular, a regularização pode ser feita com régua. Se forem blocos, eles
não devem ser colocados em disposição aleatória, a fim de terem resistência a
deformações e não possuírem irregularidades longitudinais.
O
sistema pode durar até dez anos com a parte estrutural íntegra, mas é preciso
tomar cuidado com a colmatação, o entupimento das camadas superiores por
sujeira. Estudos indicam que nos primeiros dois anos, a tendência é o concreto
poroso perder 50% da capacidade de permeabilização, e continuar perdendo o
resto gradativamente até fechar sete anos, quando os vazios estariam entupidos
na superfície. No caso de concreto permeável moldado in loco, a manutenção é
feita com a retirada de 3 cm ou 4 cm da camada mais externa, que é substituída
por uma nova. Se o sistema for de blocos, as opções são trocar os blocos por
novos ou arrancá-los cuidadosamente e trocá-los de lado. A face externa vira
para a estrutura interna e é como se fosse criada uma retrolavagem.
Devido
à granulometria, as peças de concreto permeável, que são o método mais fácil de
ser visto em uso no Brasil, são mais caras do que as convencionais. O sistema
inteiro de pavimentação chega a custar 35% a mais. Mariana, da ABCP, alerta,
porém, que o custo de cada projeto deve ser pensado levando em conta que o
concreto permeável tem a função de pavimento e também drenagem. Além disso, em
boa parte das vezes ele é utilizado para adequar o projeto à legislação,
respeitando a permeabilização exigida pelos órgãos públicos.
No
detalhe ilustrativo, solução de pavimentação de concreto poroso com drenagem da
água infiltrada por tubulação
Especificação
Quem
quiser especificar o sistema de drenagem com concreto permeável deve fazer
primeiro um orçamento-base, indicando quantos metros quadrados de pavimento
drenante terá a obra, quantos centímetros terá cada camada, quanto de material
cada metro quadrado terá e qual será a composição. Virgiliis explica que a
prefeitura paulistana está trabalhando em uma norma, a ITS 003/2012, que
ajudará os técnicos a fazerem os cálculos da parte hidráulica, de tráfego e das
camadas em relação ao concreto permeável. Será a primeira normativa do tipo no
País, prevista para sair no Diário Oficial nos próximos meses. "Ainda não
tem especificação. O pessoal trabalha empiricamente, até para fazer licitação é
difícil. Agora, quando sair a norma, talvez melhore", comenta o engenheiro,
que também é professor no Centro Tecnológico de Hidráulica da USP e na
Universidade São Judas. Por enquanto, a presença do concreto permeável no
Brasil é tímida, com iniciativas isoladas em estacionamentos de shoppings
centers e condomínios.
Quem já usou
Em
2009, uma pesquisa na USP levou à construção de um estacionamento de 1.600
m² dividido em dois: de um lado foi feito um sistema de drenagem com asfalto
permeável, camada porosa de atrito (CPA), e do outro foram usados blocos
intertravados de concreto poroso. Os blocos permeáveis absorviam a maior parte
da água, mas o rejunte usado para unir as peças também tinha propriedades
drenantes.
O projeto foi patrocinado pela Prefeitura de São Paulo, a Secretaria
de Infraestrutura Urbana e Obras, em conjunto com o Centro Tecnológico de Hidráulica
da USP, e foi tema da dissertação de mestrado de Afonso Virgiliis. "Está
lá até hoje. Os dados continuam sendo coletados; e o concreto poroso está dando
alguns probleminhas de colmatação", explica o engenheiro. Para o
experimento da USP, localizada em uma região onde chove bastante, os
pesquisadores identificaram um valor máximo de altura de chuva equivalente a 62
mm. As camadas de base e sub-base foram feitas com 35 cm, como margem de
segurança.
A função permeabilizante do concreto permeável não funciona se ele não estiver associado à base e sub-base granular. A água da chuva desce pelo concreto poroso e precisa ser armazenada na estrutura granular, que deve ser de pedras ou britas com grande volume de vazios. Depois que a chuva para, a água que ficou armazenada nos vazios pode seguir dois caminhos: ou vai para o subsolo, quando o subleito é propício para promover esse caminho até o aquífero, ou pode ir para um sistema de drenagem. Aí ela segue para os bueiros e bocas de lobo da cidade ou fica em piscinas de armazenagem ou reservatórios, a partir de onde pode ser reutilizada em espaços sanitários ou jardins.
As normas americanas dizem que, quando o solo é propício, em 72 horas a água armazenada é absorvida e lançada no aquífero. Se o subsolo é compacto e impermeável (argiloso, por exemplo), no entanto, a água que fica na base e na sub-base não consegue ir rapidamente para o lençol freático e fica acumulada no reservatório granular. Nesse caso, as camadas de pedra da estrutura podem encher e transbordar pela superfície, voltando para cima do concreto poroso.
Alternativa para aumentar a permeabilidade de pavimentos submetidos a cargas reduzidas, sistema demanda cuidados de especificação, instalação e manutenção
Quem já usou
![]() |
0 Comments:
Postar um comentário